Depois dos vinhos do Douro, região que vem sendo redescoberta pelos principais mercados mundiais, o Vinho do Porto foi o tema da segunda parte do “Porto e Douro Wine Training 2016”. O curso, realizado no começo de abril na Associação Brasileira de Sommeliers do Rio de Janeiro (ABS-RJ), foi promovido pelo Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP).
Os produtores desse que para muitos é o melhor estilo de vinho que existe têm conseguido manter a tradição, mas sem perder a chance de se renovar para atender a um mercado em constante mudança. Foi isso que levou à criação do Porto Rosé, uma novidade que agora completa dez anos de vida e que ainda é fabricado por poucos.
– Assim como alguns portos brancos, o rosé está sendo muito usado para fazer coquetéis no mundo inteiro – contou o crítico de vinhos Alexandre Lalas durante o curso na ABS.
Produzido apenas na região do Douro, em Portugal, o Vinho do Porto é o mais conhecido dos “vinhos fortificados”. Esse tipo de vinho tem maior teor de álcool que qualquer vinho “normal”, resultado da adição de aguardente vínica à bebida, o que interrompe o seu processo de fermentação. A doçura equilibrada ao teor alcoólico (quase sempre em torno de 20º) é resultado da sobra residual de açúcar que permanece no vinho quando a fermentação é interrompida.

Porto e de Vila Nova de Gaia, onde ficam os fabricantes de Vinho do Porto (foto: reprodução da internet)
Categorias dos vinhos do Porto – Há toda uma legislação e uma regulamentação para esses vinhos. Para se ter uma idéia, é a Câmara de Provas do IVDP que determina cada tipo de Vinho do Porto.
A câmara é formada por sete provadores exclusivos. Cada um faz até 20 provas por dia e sempre pela manhã, que é quando os sentidos humanos estão mais aguçados. Nesse ponto é que são definidos os diferentes estilos da bebida. Isso porque, conforme o tempo e o tipo de envelhecimento, o Vinho do Porto apresenta determinadas características, recebendo uma classificação própria. Confira abaixo os principais tipos desse vinho.
Branco: passa por barricas de carvalho por dois ou três anos e não evolui depois de engarrafado. É um vinho frutado e pode ser encontrado doce ou seco;
Rosé: surgiu muito recentemente na região. É leve e deve ser tomado em temperaturas bem mais baixas que os demais (em torno de 4 graus), inclusive com gelo;
Tawny (dividem-se em reserva e 10, 20, 30 ou 40 anos): depois de dois a três anos evoluindo na madeira, segue para outras barricas de carvalho, o que aumenta o contato do vinho com a madeira e com o oxigênio. Esse processo acelera a oxidação da bebida, deixando sua cor um pouco mais alaranjada. Os sabores lembram amêndoas, nozes e outras frutas secas;
Tawny Colheita: é um vinho de uma só colheita, de um ano específico, cuja safra é considerada de grande qualidade. Obrigatoriamente, fica no mínimo sete anos na madeira. Apresenta uma cor ainda mais clara que o anterior;
Ruby Reserva: o nome faz referência à cor do vinho, que fica de dois a três anos em barricas de carvalho. É encorpado e frutado, com sabor puxado para ameixas e frutas silvestres;
LBV (Late Bottled Vintage): tem origem em colheitas de qualidade excepcional. Passa por madeira durante um período de quatro a seis anos, o que dá ao vinho mais evolução e coloração intensa;
Vintage: grande preciosidade dos vinhos do Porto, é obtido de uma única colheita e com qualidade sem igual. Ele faz todo o percurso de vida dentro da garrafa, só estando pronto para o consumo a partir de 15, 20 anos depois de engarrafado;
Single Quinta Vintage: são vinhos de altíssima qualidade, distinguindo-se pelo fato de serem simultaneamente de um só ano e originários de uma única vinha, o que lhes confere um caráter ímpar.
Degustação – Durante o curso na ABS, provamos cinco vinhos do Porto. Cada um no seu estilo, mas todos muito bons. A seguir, a opinião nada teórica do Botequim do Vinho.
Porto Croft Pink: um porto rosé. Deve ser servido gelado (em torno de 4º) e até com gelo. Uma surpresa bastante agradável, novidade absoluta para este Botequim. Ideal como aperitivo por ser leve e refrescante.
É muito frutado e tem no aroma e no gosto um toque de cereja. Já está sendo muito utilizado na coquetelaria internacional. Tem 19,5% de graduação alcoólica. Preço médio: R$ 98.
Porto Dalva Dry White: branco e seco (mas ainda assim doce como um bom Porto). Também pode ser usado para fazer coquetéis refrescantes, à base de hortelã e frutas como laranja, limão e até misturado com água tônica.
O vinho em si é leve para um Porto (19% de álcool) e tem muita fruta, o que o torna bastante agradável de beber. Preço médio: R$ 60 (importadora Wine Mundi).
Porto Royal LBV 2010: um grande vinho, com fruta na essência. É um exemplo do que alguns especialistas chamam de “LBV com cara de Vintage”, ou seja, de ótima qualidade, acima até do que se espera de um LBV “normal”, e por isso tem ótima relação custo-benefício.
É bem encorpado e muito saboroso. Produzido pela tradicional Real Companhia Velha, foi engarrafado entre o 4º e o 6º ano depois da colheita e tem 20% de graduação alcoólica. “A melhor harmonização para esse é a taça seguinte”, brincou Carlos Soares, diretor do IVDP que estava no curso. Preço médio: R$ 180.
Porto Graham’s Tawny 10 anos: um pouco mais alaranjado que o anterior devido à ligeira oxidação que vai sofrendo no processo de envelhecimento, o que o torna um vinho bastante encorpado.
Tem ótima acidez, característica fundamental para equilibrar a doçura desse vinho. Tanto é assim que ele é mais doce do que o anterior e, ainda assim, mais “agradável” de se beber. Graduação alcoólica de 20% e preço médio de R$ 115 (importadora Mistral).
Porto Ramos Pinto Quinta do Bom Retiro Tawny 20 anos: ainda mais “alourado” que o Graham’s. Do tradicional produtor Adriano Ramos Pinto, trata-se de um vinho excelente, muito macio e redondo.
É bem doce (122,3 gramas por litro), mas com um equilíbrio fantástico entre álcool (graduação de 20%), açúcar e acidez que o deixa perfeito. Na nossa opinião, embora isso seja sempre relativo, o melhor dos cinco degustados. Preço médio: R$ 366.
2 Comentários
Adoro vinho do porto, em julho pretendo visitar a cidade do Porto para conhecer mais sobre a fabricação deste. Muito bom seu artigo, obrigada por compartilhar os sabores e peculiaridades desta bebida.
Que bom que gostou do artigo! Nós também estamos pretendendo ir ao Porto em breve. Lugar lindo, comida e bebida boa! 😉