A Península de Setúbal, ao sul de Lisboa, há séculos é muito conhecida, mundo afora, pelo seu mais famoso produto: o “Moscatel de Setúbal’. Consta que esse vinho fortificado, licoroso (como é também o Vinho do Porto, por exemplo), já fazia sucesso nas festas do Palácio de Versalhes promovidas pelo rei da França Luís XIV. Mas os demais vinhos seguem contando, e muito bem, a história da região para além do seu renomado produto.
Foi essa combinação de qualidade e diversidade que o Botequim do Vinho pôde constatar na “Prova de Vinhos da Península de Setúbal 2017 – Rio de Janeiro”, onde esteve a convite da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal. No último dia 31 de maio, num dos salões do Copacabana Palace, produtores que o consumidor brasileiro já conhece – como José Maria da Fonseca, da linha “Periquita” (foto abaixo), e Adega de Pegões – e outros desconhecidos – caso da Adega Camolas, ainda sem importador no Brasil, e da SIVIPA – expuseram seus vinhos para degustação.
Ao todo, nove vinícolas apresentaram um amplo e interessante panorama dessa região cujos vinhos são (injustamente) menos “badalados” do que os do Douro e do Alentejo, para citar as duas regiões vinícolas mais conhecidas de Portugal. Entre dezenas de bons vinhos, destacaram-se, em nosso ponto de vista, deliciosos brancos “tranquilos” (como os portugueses chamam os vinhos que não são espumantes nem fortificados).
Destaques – No meio desses ótimos brancos, dois nos chamaram ainda mais a atenção: Parus (2016), feito 100% com a uva Antão Vaz, da vinícola Herdade da Comporta; e, especialmente, o Brejinho da Costa (2015), das uvas alvarinho e Antão Vaz, da Quinta Brejinho da Costa.
São todos vinhos frutados e muito minerais. Destaque para toda a linha de brancos da Quinta Brejinho (que ainda não tem representante no Brasil).
A vinícola existe há uma década e produz apenas 300 mil garrafas por ano. Por ficar numa área de praia e solo arenoso, com muito sol e bastante próxima do oceano, a vinícola imprime a seus vinhos um grande frescor natural que os torna especiais.
Entre os tintos, ressaltamos o Quinta do Piloto Reserva (2014), elaborado com vinhas velhas pela vinícola Quinta do Piloto, e também o encorpado e muito gostoso Quinta da Mimosa (2014), da Casa Ermelinda Freitas. Ambos elaborados só com a uva castelão, que para muitos alcança sua melhor expressão exatamente na Península de Setúbal.
No mais, o bom e velho Moscatel de Setúbal continua impecável. Provamos exemplares de quase todos os expositores e, cada um no seu estilo, são vinhos macios, redondos e espetaculares como “vinhos de sobremesa” ou mesmo para serem bebidos em pequenas doses, sem acompanhamento. Entre todos, um se destacou a nosso ver: o Moscatel Roxo, safra 2013, da vinícola Venâncio da Costa Lima (foto anterior).
Vinhos regionais x D.Os Palmela e Setúbal – De acordo com a legislação, a área de produção da Indicação Geográfica (I.G.) da Península da Setúbal permite produzir tintos, brancos, rosados e espumantes com uvas de todo o distrito de Setúbal. Há uma grande diversidade de tipos de uvas, sendo as mais plantadas castelão, aragonês, syrah (tintas), moscatel de Setúbal, Fernão Pires e arinto (brancas).
A Denominação de Origem (D.O.) Palmela, por sua vez, engloba os concelhos (como se fossem “estados”) de Setúbal, Palmela, Montijo e a região do Castelo, no concelho de Sesimbra (veja no mapa acima). Essa D.O. engloba a mesma área da D.O. Setúbal, mas exclui a produção da uva moscatel de Setúbal. A estrela da denominação Palmela é a castelão, casta que obrigatoriamente deve estar presente em pelo menos 67% de cada blend (combinação, “mistura”) dos vinhos tintos.
Já a D.O. Setúbal refere-se apenas aos vinhos que, embora produzidos na mesma área geográfica que demarca a D.O. Palmela, sejam aqueles “licorosos”, ou seja, os Moscatéis de Setúbal. Existem dois tipos com direito à D.O. Setúbal: aqueles elaborados com a uva branca moscatel e os feitos com a uva rosada moscatel roxo.
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