LETÍCIA SICSÚ
O verão em Paris é um evento. É quando as francesas podem colocar os pezinhos de fora em suas sandálias e desfilar pela cidade com roupas de cores claras. É quando os terrasses, as famosas varandas dos bares e restaurantes parisienses com suas cadeiras todas viradas para a rua, se enchem de gente e de suas conversas e de suas risadas. É tempo de alegria. E de vinho rosé.
Os dias longos, o céu azul iluminado e o entardecer laranja no horizonte parecem ter sido pensados como cenário ideal para as mesas nas calçadas com as diversas tacinhas de vinho de cor salmão bem clarinho. O rosé no verão é como uma instituição. Se é verão, é vinho rosé, ora bolas. Tudo sem muita explicação.
Também não há explicação para a moda de alguns poucos anos de colocar gelo nas taças de vinho rosé. Está calor? Sim, está. Mas os brancos continuam sendo servidos frios, sem gelo, claro. A mesma naturalidade que faz com que os vinhos brancos sejam servidos dentro dos padrões tidos como corretos pelo serviço do vinho, faz com que o rosé chegue, em muitos bares, acompanhado de um baldinho de gelo. Tudo muito simples, natural.
Assim, com o vinho rosé ainda mais clarinho – aguado – dentro do copo, os parisienses conversam sobre quase tudo. Falam sobre arte, mas não ligam para qual é a uva utilizada para produzir o vinho que está no copo. Tratam de economia, mas não estão nem aí para a safra do vinho que bebem. Escolhem o rosé da Provence, mas não têm a menor importância debater qual é o melhor produtor e como é o “terroir” da região.
Quando estão sentados em mesas estrategicamente escolhidas por estarem debaixo do sol, bebericando seus rosés e repondo o gelo do copo, falam até sobre a necessidade de estocar a vitamina D para o inverno que fatalmente virá. Mas se tem um assunto que não está em pauta de jeito nenhum é se o rosé é ou não é um vinho “menor”, como alguns “especialistas” costumam dizer por aqui no Brasil.
Beber não é muito assunto por lá, é hábito. E, sobre os rosés, ele tem hora e lugar marcado: o verão.
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