“Douro, região produtora, e Porto, cidade de comércio, enlaçam-se no rio Douro, espinha dorsal desse território vinhateiro”
A frase estava escrita sobre uma linda fotografia de vinhedos do Douro, em Portugal, durante o “Porto e Douro Wine Training 2016”, curso promovido pelo Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP) na Associação Brasileira de Sommeliers do Rio de Janeiro (ABS-RJ). E resume muito bem a atmosfera dessa que é a mais antiga região demarcada do mundo e onde são produzidos quase 50% dos vinhos portugueses.
Dá para dizer, sem medo de errar, que as regiões vinícolas do Douro e do Porto, em Portugal, estão entre as mais bonitas e históricas do mundo. E que os vinhos produzidos lá – alguns dos quais com grande reputação – têm características muito particulares. Isso porque em poucos lugares os estilos dos vinhos expressam tão intensamente e de forma tão marcante as características dos elementos que o formam. Entre os principais: a mistura de diversas castas de uvas – são mais de 100 autorizadas –, os tipos de solo, o clima (muito frio do inverno e muito quente no verão) e os processos de vinificação.

Paisagem de vinhedos no rio Douro, Portugal: mais antiga região demarcada do mundo (foto: reprodução da internet)
A Região Demarcada do Douro (RDD) foi criada em 1756 e serviu de modelo para muitas outras, mundo afora. Desde 2001, é considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Na região há aproximadamente 23 mil viticultores cujas propriedades têm, em média, apenas dois hectares. Portanto, não há produção de grande escala – eis aí um dos motivos que garantem controle e qualidade ao produto final.
Durante o curso, além da degustação de oito vinhos em dois dias (três do Douro e cinco do Porto), o principal para nós, do Botequim do Vinho, foi constatar que nos últimos anos a qualidade dos vinhos portugueses vem sendo redescoberta. Deixados de lado a partir dos anos 90 por conta de uma certa uniformização do paladar, ditada sobretudo pelos Estados Unidos (maior mercado consumidor de vinhos do mundo), eles voltaram a ser admirados em todos os cantos.
– Com a globalização do mercado, acabou ocorrendo um nivelamento do gosto, fazendo com que muitos produtores de vários países passassem a fazer vinhos com estilos muito parecidos. Mas, de oito, dez anos para cá o consumidor de vinho ficou “entediado” e foi buscar outros sabores. E aí os vinhos de Portugal voltaram a ser reverenciados. O mundo redescobriu o que os portugueses sempre fizeram com grande qualidade e sem abandonar as suas tradições – analisou o crítico de vinhos Alexandre Lalas durante palestra na ABS-RJ, há duas semanas.
Degustação – A seguir, falamos dos vinhos do Douro degustados na primeira parte do curso. Eles foram mais do que aprovados pelo paladar “sem frescura” do Botequim do Vinho, que em breve irá a Portugal ver – e beber – tudo de perto.
Experimentamos três vinhos: o branco Douro Quinta do Portal Colheita (2014), e os tintos Douro Vallado (2013) e Douro Duorum Reserva (2012).
Douro Quinta do Portal Colheita – é um vinho muito leve, no melhor dos sentidos, com 13% de graduação alcoólica. Feito a partir das uvas viosinho, malvasia fina, moscatel galego branco e gouveio, tem coloração branco-palha bem claro.
Além de refrescante, é bem seco e tem acidez acentuada, o que o torna ótima opção, por exemplo, como aperitivo ou para acompanhar saladas e entradas leves. Preço médio no Brasil: R$ 65,00 (importadora All Wine).
Douro Vallado – produzido pela Quinta do Vallado, uma das vinícolas mais tradicionais do Douro, é um tinto equilibrado e leve, com graduação alcoólica de 13,5%. Essa leveza vai contra o esteriótipo segundo o qual os vinhos do Douro são muito concentrados e “duros”.
Por isso, pode e deve ser bebido em temperaturas até baixas para um vinho tinto – em torno de 14°. É produzido a partir de uvas nascidas de vinhas com 25 anos de idade, o que, para Portugal, são vinhas novas (comparando: uma vinha com essa idade, no Chile, por exemplo, é considerada “velha”). Preço médio: R$ 85,00 (importadora PPS).
Douro Duorum Reserva – um grande vinho da região do Douro Superior, é mais encorpado que o anterior. É um vinho que tem boa combinação de força e elegância no paladar.
Feito com uvas de vinhas novas, com 5 anos de idade, tem grande potencial de se tornar ainda melhor daqui a alguns anos.
Uma curiosidade: esse vinho é produzido pelo enólogo José Maria Soares Franco, o mesmo que durante anos fez o famoso Barca Velha, um ícone de Portugal. Ele tem 14% de graduação alcoólica e preço médio de R$ 250 (importadora Casa Flora).
Na segunda parte, falamos sobre os vinhos do Porto.
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