Por puro acaso, a bodega Castillo Viejo acabou ficando para o nosso último dia no Uruguai. Era a sétima que visitaríamos em pouco menos de uma semana. A caminho de lá, chegamos a imaginar que encontraríamos mais do mesmo. Enorme engano. Por trás de uma construção sem grandes encantos e de uma paisagem sem vinhedos, está uma pequena-grande vinícola onde são produzidos alguns dos melhores vinhos que bebemos em toda a viagem.
A sede da Castillo Viejo fica na região de Las Piedras, distante 40 minutos do Centro de Montevidéu. Tínhamos agendado visita seguida de degustação e almoço e chegamos lá no fim da manhã. Durante a visita, ouvimos sobre a história da vinícola e seus processos de produção, passamos por tanques de concreto e de aço e pela etapa onde as garrafas recebem os rótulos.
Nenhuma grande novidade, a não ser por dois “detalhes” que viriam a seguir e fariam toda a diferença para nós. Um deles era a inusitada existência de uma considerável produção de vinhos de mesa, que na verdade estão intimamente ligados à história dessa bodega – durante muitas décadas só produziu esse tipo de vinho. O outro foi o impacto que tivemos ao entrar na cave, onde há vinhos amadurecendo em tanques e barricas, e saber que a degustação e o almoço ocorreriam ali dentro daquele lindo “cenário”.
História – A vinícola foi fundada em 1927 por Don Santos Etcheverry. Mas foi só na década de 1990 que passou a produzir vinhos finos. Até então, fazia apenas vinhos de mesa, aqueles de garrafão, feitos com uvas menos nobres em relação às utilizadas para fazer vinhos de qualidade.
A mudança começou na segunda metade dos anos 80, quando a terceira geração da família – no comando até hoje – assumiu a direção da bodega. Naquele momento, iniciou-se uma conversão dos vinhedos próprios, localizados no departamento de San José (a cerca de 70 km de Montevidéu). Começaram a ser plantadas variedades de uvas próprias para a elaboração de vinhos finos, como sauvignon blanc, chardonnay, viognier, tannat, cabernet franc, merlot, cabernet sauvignon e tempranillo.
Na década seguinte, a bodega foi readaptada para que começasse a produção de vinhos de alta qualidade, com a compra de maquinário moderno e o treinamento de funcionários. E assim foi criada a linha Catamayor, a primeira de vinhos finos da Castillo Viejo e que até hoje identifica essa bodega, inclusive no exterior. Atualmente, vinhos das diversas linhas da vinícola são exportados para 37 países, entre eles Brasil, Estados Unidos, Suécia, Holanda, Alemanha e Reino Unido.
Degustação e almoço – A degustação foi completa e cheia de surpresas. Provamos cinco vinhos. Primeiro, acompanhados de queijos, frios e pastas com torradas. Em seguida, um dos tintos da degustação foi o vinho do almoço.
Os três primeiros foram vinhos da linha Catamayor: Sauvignon Blanc 2015, Cabernet Sauvignon 2014 e Tannat 2014. Todos muito corretos, equilibrados e que combinavam bem com os petiscos pré-almoço. Destaque para o branco, muito leve e frutado.
Depois, foi a vez da ótima surpresa chamada Vieja Parcela Cabernet Franc 2013. Um vinho encorpado, equilibrado, e de uma uva, a cabernet franc, que nós não tínhamos provado ainda em vinhos uruguaios. Começamos com ele ainda no fim dos frios e queijos e avançamos pelo almoço – carne vermelha, batata noisette e salada. Combinação perfeita. Para fechar de forma irretocável essa maravilhosa degustação-almoço, a sobremesa foi tão somente um licor de tannat, o Tardío Tannat, inacreditável de bom e que repetimos algumas vezes.
Assim terminava a visita à Castillo Viejo e a nossa aventura por um pedaço do mundo do vinho uruguaio. O nome da vinícola surgiu de uma lenda do século XIX, originada no pequeno povoado de Ville Hasparren, nos Pirineus franceses. Dizia que, desde a torre mais alta do castelo mais velho (el más viejo castillo), era possível avistar o Novo Mundo. E que todo aquele que o visse teria fortuna e paz.
“E grandes vinhos”, ousaríamos acrescentar. Porque, para nós, é como se essa lenda tivesse se tornado uma doce premonição não apenas para a vinícola, mas para o vinho do Uruguai, país que, pouco a pouco, vai ocupando um lugar cada vez mais nobre – e merecido – na vinicultura sulamericana.
2 Comentários
Aonde comprar vinho tannat em Riveira no Uruguai….
Em Rivera ainda não fomos… neste caso não podemos ajudar…
Abs!