Saindo do castelo do Clos de Vougeot, fomos em busca da próxima parada: Vosne-Romanée, a vila mais ao sul da Côte de Nuits. É lá que ficam alguns dos mais conceituados vinhedos do mundo, onde são produzidos vinhos que estão entre os melhores do planeta, inclusive o mito chamado Romanée-Conti.
Com alguns minutos de estrada, avistamos a placa e entramos à direita. Algumas centenas de metros depois, estávamos na pequena praça central, de frente para a igreja Saint Martin.
Por instinto (não havia qualquer indicação), continuamos a subir a colina pela estreita Rue du Temps Perdu (Rua do Tempo Perdido). É no número 1 dessa rua, aliás, que fica a sede do domaine. Não é aberta a visitantes e não se consegue sequer ver uma garrafa dessa preciosidade.
Logo depois, bem no ponto onde a rua acaba, numa transversal sem asfalto, demos de cara com a famosa cruz de pedra que marca o começo do vinhedo de La Romanée-Conti. Ele está plantado em um pedaço de terra que não chega a dois hectares (1,8).
Difícil descrever o que sentimos. Ali estava o crucifixo e a murada de pedra que só conhecíamos de fotografias e de ouvir dizer. Saímos do carro, tiramos fotos, fizemos imagens dançando na rua deserta, gritamos como crianças.
A vontade de pôr as mãos naquele terreno, nas folhas das videiras e em suas uvas foi quase irresistível. Mas não, não ultrapassamos o muro.
Aquele muro protege – sem grades nem cercas nem portões – alguns hectares de vinhedos cujos vinhos são verdadeiras jóias, com qualidade e preços altíssimos. Uma única garrafa de Romanée-Conti não sai por menos de 30 mil reais. Dependendo da safra, é ainda mais caro.
Depois de algum tempo, voltamos para o carro e subimos um pouco mais pela estrada que contorna os vinhedos. O visual que se tem lá do alto é mais ou menos o da foto que abre esse texto: de tirar o fôlego.
Impossível não se emocionar. Ainda mais ao ficarmos sabendo que, quando tudo começou naquela encosta de Vosne-Romanée, os monges pioneiros colocavam pedaços de terra na boca para provar e identificar as diferenças de sabor e textura do solo. Foi assim que eles determinaram onde terminaria um vinhedo e começaria outro.
Ali, lado a lado, além do La Romanée-Conti, estão outros vinhedos considerados os melhores e mais respeitados em todo o mundo: La Tâche, Richebourg, La Grand Rue, La Romanée, Romanée-St Vivant, Echézeaux… Deles nascem vinhos que muito dificilmente teremos condição de beber até o fim da vida. Mas naquele momento, isso não teve qualquer importância.
0 Comentário