Bem pertinho de Santiago, na região do Vale do Maipo, está a vinícola El Principal. É uma bodega pequena, com uma produção de cerca de 200 mil garrafas, localizada aos pés da “parte baixa” da Cordilheira dos Andes. A visita é ideal para quem procura um passeio menos turístico, mais personalizado e com vinhos de altíssima qualidade (e preços muito bons).

Era o quarto dia da nossa aventura de 10 dias por diversas regiões vinícolas chilenas e nos apaixonamos pelo vinho “de entrada” da El Principal, o seu produto dito “mais simples”: Calicanto. Foi eleito na hora como o destaque da viagem, sem medo de que pudéssemos provar outro que nos agradasse tanto nos dias que ainda estavam por vir.

Ele tem um excelente custo-benefício e, para nós, é muito gostoso. O nosso encanto com ele foi tanto que, já no fim dos nossos dias no Chile, fomos a uma loja em Santiago e compramos mais seis garrafas, além das duas que havíamos comprado na vinícola.

Difícil acreditar que pelo equivalente a menos de 45 reais (preço na loja da vinícola) tivemos acesso a um vinho tão especial – ainda mais pelo fato de que havíamos estado, pouco antes, na Viña Almaviva, provando o seu vinho estrelado e caríssimo (e um tanto superestimado).

Visita – O passeio para conhecer a vinícola começou pela loja (acima), onde aprendemos sobre a história do estabelecimento. Tudo começou em 1992, quando o enólogo francês Jean Paul Valette, antigo dono do famoso Château Pavie, em Saint-Émilion (na região de Bordeaux), decidiu que queria fazer “o melhor vinho do Chile”. Ele escolheu essa região por considerar que ela possuía um terroir especial, dadas as condições climáticas, a altitude e o tipo de solo.

Assim, começou a plantar as uvas cabernet sauvignon e carmenere. A primeira safra de vinhos saiu apenas no ano 2000, e foi considerada excelente pela crítica.

Porém, um tempo depois a empresa fechou. Até que em 2005, duas famílias de empresários de altíssimo poder aquisitivo, uma do Chile e outra da Alemanha, compraram a propriedade e retomaram a produção dos vinhos. Desde então, o único objetivo dos proprietários tem sido fazer vinhos de alta qualidade. E só.

A operação precisa apenas ser autossustentável, não há a necessidade imediata de lucro. Com isso, a qualidade agradece.

Essa situação acaba por dar liberdade para experimentações, o que, muitas vezes, traz resultados incríveis para os vinhos. O atual enólogo da El Principal é muito presente e toma todas as decisões a partir de experimentos e provas que ele mesmo faz.

Visitamos ainda uma parte dos vinhedos, a sala de armazenamento e a sala subterrânea onde ficam as barricas, que é muito bonita. No fundo dessa cave cheia de barris de carvalho francês fica uma linda sala de degustação. E lá experimentamos os três vinhos tintos produzidos pela vinícola, inclusive o ícone que leva o seu nome.

Degustação – O primeiro que provamos foi o Calicanto 2015, o vinho de entrada da vinícola, ou seja, o mais simples e mais barato. É o único em que são utilizadas uvas carmenere. Ele é feito a partir de cinco uvas e tem um potencial de guarda de até 10 anos.

Nós, como já dissemos, adoramos o vinho e o sentimos bastante frutado. Apesar de passar por barrica de carvalho, não tem aquele gosto forte de madeira que, algumas vezes, acaba por mascarar o sabor das frutas. Para comer, são boas opções queijos amarelos, com mais gordura. É uma ótima pedida também para acompanhar pizzas. Ou até sozinho mesmo…

Em seguida, passamos para o Memórias. O vinho é ótimo. Nós, que não somos especialistas e não sabemos descrever com aqueles termos difíceis, sentimos um “amargo bom” no finzinho. É um vinho mais estruturado do que o Calicanto e com certeza harmoniza muito bem com carnes, mesmo que sejam um pouquinho mais condimentadas. Beleza pura.

Por fim, degustamos o El Principal, vinho ícone da vinícola, o mais complexo e, portanto, bem mais caro (custa cerca de oito vezes do que o Calicanto). E podemos dizer que é maravilhoso. Elaborado com 87% de cabernet sauvignon, tem força e estrutura – que vinho! Nós o degustamos com amêndoas, e ficou uma delícia.

Terminamos essa etapa de degustação muito felizes por termos conhecido essa pequena vinícola. Tivemos a certeza de que a pouca quantidade produzida e toda a dedicação do enólogo e de sua equipe são primordiais para a grande qualidade dos vinhos. Era chegada a hora de seguimos para a próxima etapa do passeio: um piquenique no mirante da El Principal, localizado no alto de uma pequena colina do meio de vinhedos a perder de vista. É essa história, regada a vinho (Calicanto!), comidinhas e muita diversão, que contamos no post seguinte.