Quando programamos a nossa viagem ao Chile, tivemos a preocupação de tentar encontrar vinícolas importantes, com bons vinhos, e ao mesmo tempo menos conhecidas pelos turistas. Assim, tínhamos dúvidas se visitaríamos ou não a Viña Almaviva. Isso porque, apesar de termos certeza de que o vinho era bom, ficávamos incomodados com o, digamos, “frisson” criado em torno do rótulo por um certo perfil de público no Brasil. No fim das contas, decidimos ir lá ver – e provar – do que se tratava.
Dito de outra forma, o nosso “pé atrás” com esse vinho, antes de experimentá-lo, tinha menos a ver com os elogios que já tínhamos lido e ouvido sobre ele. A implicância prévia estava relacionada com a nossa impressão de que, para muita gente por aqui, uma garrafa de Almaviva em uma foto nas redes sociais seria sinal de status – definitivamente, não concordamos com essa ideia de que vinho dá status a alguém.
Em terras brasileiras, não se compra uma garrafa da safra 2009 – a que degustamos no Chile – por menos de R$ 1.100. Lá na vinícola, ela custava o equivalente a R$ 610, dinheiro que não temos para investir em um único vinho.
Então, para conhecer o vinho e a sua “casa”, resolvemos pagar pelo tour, igualmente caro. São 80 dólares por pessoa, valor que não desembolsamos nem em Champanhe (!) e que dá direito a apenas uma taça (!) do Almaviva 2009 por pessoa.
Visita – A propriedade é belíssima. Os vinhedos são emoldurados pela Cordilheira dos Andes (fotos acima) e a sede (abaixo e vista de dentro na foto que abre o post), uma construção de linhas modernas e de muito bom gosto, integra-se muito bem à paisagem.
Ao chegarmos, fomos recebidos por uma simpática guia francesa (mas que falava um ótimo espanhol). Ela nos explicou que a Almaviva é fruto da parceria entre o Château Mouton Rothschild, de Bordeaux, com a chilena Concha y Toro, uma das maiores produtoras de vinho da América Latina.
A ideia que norteou a criação da vinícola foi unir “o melhor da França com o melhor do Chile” na produção de um vinho “grand cru”, como são categorizados os melhores vinhos franceses. Assim, a Almaviva existe praticamente para fazer apenas esse vinho – na verdade, tem ainda um de “segunda linha”, o ótimo Epu, que já havíamos provado e cuja garrafa custa, na vinícola, “módicos” R$ 124 (ou seja, um quinto do valor do Almaviva).
Na propriedade, há 65 hectares de plantação. As videiras têm cerca de 40 anos de idade e produzem uma quantidade pequena de uvas, o que aumenta a qualidade das frutas e do vinho delas resultante, na medida em que os nutrientes ficam mais concentrados.
O cuidado é tanto durante a produção que, depois de colhidas e selecionadas manualmente, as uvas passam por uma espécie de scanner, onde são analisadas digitalmente. Somente as uvas perfeitas continuam o percurso para virar vinho.
A sala de barricas (acima) tem um visual impactante. Os barris de carvalho francês são usados apenas uma vez para envelhecer o vinho, que descansam ao som de Mozart.
As garrafas são as mesmas usadas para os vinhos do Château Mouton Rothschild. A produção é de 150 mil garrafas por ano, sendo 98% delas destinadas à exportação, principalmente para a China.
Degustação – Terminada a visita, fomos levados a uma pequena e charmosa sala de degustação. Lá, já estavam nos aguardando três tacinhas do Almaviva 2009 (uma era para a guia, que deu apenas um gole no início da prova e nos deixou com vontade de secar a taça dela quando acabamos com o vinho das nossas…).
Nesse momento, sentimos uma decepção por não poder ver a garrafa do vinho que íamos beber. Sequer havia, na sala, uma da safra 2009. Sobre a mesa, apenas uma garrafa cenográfica, fechada e vazia, com rótulo da safra 2014. Bola fora, ainda mais para um tour tão caro.
De toda forma, implicâncias à parte, o vinho nos pareceu mesmo muito bom. É elaborado sempre a partir da combinação das uvas cabernet sauvignon (a maior parte, com cerca de 70%), carmenere (que entra com mais ou menos 20%), e o restante com as cepas merlot e petit verdot, cujos (pequenos) percentuais na mistura variam ano a ano, conforme a colheita.
Por nascer de vinhas localizadas muito próximas da Cordilheira – e em solo que segundo consta é o melhor para a cabernet sauvignon no Chile –, o clima e suas variáveis naquele trecho do Vale do Maipo (como a grande variação de temperatura entre o dia e a noite) “faz” um vinho que une potência da fruta e frescor. E foi isso que a gente sentiu. Um vinho encorpado e muito gostoso porque é frutado e se mantém ácido (fresco) na medida.
Terminado o tour e já saindo da vinícola por entre as plantações (e sem levar nenhuma garrafinha de Almavia), basicamente duas sensações nos acompanhavam. A primeira: tinha valido a pena conhecer a vinícola criada para fazer um vinho premium que de fato se consolida como um “novo” ícone chileno. A outra: o Almaviva, o vinho em si, pelo pouquíssimo que pudemos experimentar (e não compramos , é ótimo; mas, definitivamente, não é melhor do que outros vinhos que provamos por aí (e com preços muito mais baixos), inclusive nessa mesma viagem, como a gente conta no post seguinte.
3 Comentários
Me informaram que não é possível fazer visita, como você conseguiu conhecer ? Tem algum contato pra me indicar ?
Aconteceu a mesma coisa comigo, fui tentar agendar uma visita e disseram que não é possível!
Então deve ter mudado. Fomos em abril do ano passado, agendando pelo site… Que pena!