Sonho, garra e determinação feminina. Foi desse tripé que surgiram os vinhos da Casa Marin, a vinícola chilena mais próxima do oceano em toda a América Latina. María Luz Marin é a guerreira – no início vista como louca – que cismou de plantar uvas para fazer vinhos de qualidade no pequeníssimo povoado de Lo Abarca, no Vale de San Antonio, no Chile.
O lugar tem um clima extremo, muito seco, muito frio e com ventos constantes. Além disso, a distância de apenas 4 quilômetros do Pacífico faz dele um terroir único para a plantação de algumas cepas de uvas.
A história de María Luz com Lo Abarca surgiu na infância. Moradora de Santiago, ela passava férias com a família por lá. Já adulta, tornou-se agrônoma e enóloga e percebeu que as frutas e verduras plantadas ali eram bonitas, com cores vivas e muito saborosas. Um dia, pensou: “Por que não plantar uvas?”. E aí começou a sua obsessão.
Num primeiro momento, tentou conquistar um sócio para dar início à sua vinícola, mas não conseguiu. Então, enquanto não começava a sua trajetória como protagonista na produção de vinhos, foi ganhando experiência com o trabalho em vinícolas grandes, como a Concha y Toro. Finalmente, no ano 2000, com a ajuda da família, começou uma plantação de sauvignon blanc em 25 hectares de terra. Alguns anos depois, nascia o seu primeiro vinho, um branco desta cepa.
Um encontro – Com essas preciosas garrafas, María Luz foi para a Europa testar o sabor do seu vinho em feiras e eventos especializados. O objetivo era conseguir opiniões para aprimorar as futuras produções. Mas, uma sorte de principiante fez com que ela encontrasse, por acaso, ninguém mais ninguém menos do que Robert Parker, o mais famoso crítico de vinhos do mundo. Ele provou o vinho e, de cara, deu 93 pontos para seu sauvignon blanc da Casa Marin. Uma belíssima nota.
Radiante com a conquista, ela voltou ao Chile com ainda mais energia para seu corajoso empreendimento. Em 2005, começou a construção da bodega, uma linda casa em estilo colonial e integrada à paisagem.
A partir daí, o estudo aprofundado do solo dos vinhedos levou à adequação de quais tipos de uvas plantar ali. Além da sauvignon blanc, são cultivadas as variedades gewurztraminer, riesling, pinot gris, garnacha, syrah e pinot noir. Hoje, são 40 hectares plantados e uma produção de 250 mil garrafas por ano. Cerca de 85% do total são exportados.
‘Terroir’ – Durante a visita, ficou claro para nós que o conceito francês de terroir – que engloba variáveis como solo, clima e microclima, intervenção do homem, topografia, exposição ao sol etc. – é, de fato, a base de tudo na Casa Marin. Cada pedaço de terra e estação do ano, além de quem e como faz o trabalho, são levados em consideração na hora das escolhas sobre como serão os vinhos.
As uvas do tipo sauvignon blanc, por exemplo, são plantadas em três lugares diferentes, cada um com uma característica. Portanto, delas resultam vinhos com características distintas, o que dá muita riqueza e complexidade de sabor a cada vinho, ainda que feitos da mesma uva.
Uma curiosidade, que mostra a paixão inerente a tudo o que a enóloga faz, é que, apesar de o solo ser muito bom para a produção da cepa branca chardonnay, ela não planta essa uva. A explicação é simples: María Luz não gosta de beber vinhos de chardonnay. Então, não faz.
Com a pesquisa constante feita no local, foi desenvolvido um sistema de irrigação especial. Além disso, são usadas pequenas estações de clima (foto acima), que conseguem prever com antecedência principalmente a ocorrência de geadas – o que evita ou minimiza os prejuízos com a perda das safras. Outros fatores que atrapalhariam o crescimento das uvas, como vespas, pássaros e coelhos, também são solucionados com artifícios naturais, como potinhos de uvas especiais para os coelhos, para que eles não peguem do pé, por exemplo.
O passeio pela vinícola foi muito divertido e agradável. Conhecer a história de María Luz foi mais uma oportunidade que tivemos de ver como esse mundo do vinho é movido a paixões.
E também de ver como, só dessa forma, é possível realizar grandes sonhos e feitos que parecem impossíveis. Todo esse amor ficou, depois, perceptível em cada gole que demos nos vinhos da Casa Marin (no post seguinte, contamos sobre a degustação), na varanda da casa, com essa vista da foto abaixo!
0 Comentário