Assim que chegamos ao hotel Spa do Vinho, no começo de abril, garantimos os nossos lugares na degustação oferecida aos hóspedes no sábado à noite. Às 19h30, nós nos juntamos ao grupo de 10 pessoas para conhecer os vinhos da vinícola Milantino, localizada no Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha. Fomos recebidos pelo enólogo Luís Milani, que exerce a profissão há 35 anos.

O enólogo Luís Milani em ação durante prova de vinhos da Milantino

Antes de começar a degustação dos seis vinhos da pequena vinícola, aprendemos um pouco sobre a história da família italiana que chegou ao Brasil e começou a produção de vinhos finos em 1989. O pai dos três irmãos que atualmente tocam a empresa morreu em 2009.

A paixão nos olhos de Luís pela tradição da família chega a ser comovente. Para ele, o vinho precisa ser sempre elegante, pois é o prazer de muitas famílias.

Ele conta que boa parte dos imigrantes italianos que vieram para o nosso país é de pessoas pobres, que trabalham e se dedicam à lavoura com muito amor e responsabilidade:

– Nós tentamos manter a tradição de ter a família sempre unida. Para muitos, abrir um vinho com quem se ama, no fim de um dia cansativo de trabalho, é o maior prazer. É essa a ideologia que queremos passar para os nossos filhos. Minha mãe tem 90 anos. Até hoje, com ela, nós falamos em italiano. Esse amor e essa tradição é o que importa para nós – diz.

Sede da Milantino, a vinícola-boutique que prima pela qualidade e cuja produção anual é de apenas 70 mil garrafas

O cuidado também está presente no cultivo da uva e na elaboração dos vinhos. Com a família, vieram as primeiras mudas de videiras. No início, elas foram plantadas só para consumo próprio. Depois, conquistou turistas e moradores da região. A atual produção está em torno de apenas 70 mil garrafas por ano.

Área interna da vinícola e o balcão de degustações (foto: divulgação)

– Temos que trabalhar a uva no vinhedo, deixar o solo agir e aprender com a natureza – ensina Luís.

Prova gratuita de 6 vinhos – A degustação oferecida pela Milantino foi gratuita e nos surpreendeu por ter apresentado muitos vinhos das linhas mais nobres da vinícola.

Provamos o top da vinícola, o Gran Vino 2008, feito com uma mistura nada comum das uvas merlot, tannat e ancellotta (italiana). Custa R$ 250. São dois anos armazenado em barrica de carvalho francês de primeiro uso.

O ‘top’ Gran Vino 2008

Espumante

O resultado, na nossa opinião, é excepcional. A cor é um vermelho rubi bem forte. O sabor é intenso e bem equilibrado. Muito bom mesmo. Na hora, sonhamos com uma carne bem suculenta e um molho mais condimentado para acompanhar.

– Para fazermos bons tannats, precisamos da luz do sol e de deixar maturar até o momento adequado. Usamos uvas desidratadas na mistura, o que dá esse toque de geleia – diz o enólogo.

A degustação começou com o espumante Milantino Extra Brut. Bom, mas bem diferente dos que já degustamos e que também são feitos na região. O preço é R$ 58,30.

Ao degustar, sentimos de uma forma bem forte um aroma de nozes, de algo tostado. Feito com 50% de pinot noir e os outros 50% de chardonnay, o espumante, na boca, tem um gostinho de caramelo. Interessante.

O único vinho que não gostamos muito foi o branco, o Chardonnay Reserva 2013. É um vinho leve demais e no qual a acidez praticamente não existe, o que o deixa, digamos, um tanto “aguado”. Talvez tenha vindo daí a nossa estranheza. O preço dele é R$ 68, 20.

Também provamos o Malbec do Vale 2012 e o Merlot Reserva 2005 (à esquerda), esse último um vinho maravilhoso.

No entanto, além dos ótimos vinhos produzidos pela Milantino, o que mais nos marcou foi a história por trás de tanta qualidade. O jeito de ser e de trabalhar do Luís reflete bastante o que pensamos sobre esse mundo tão encantador dos vinhos. Beber vinhos é um hábito alimentar, traz alegria e é uma forma de reunir as pessoas que amamos.

– Não queremos criar regras para o mundo do vinho – diz ele.

Nós também não.