No meio de hectares e mais hectares de vinhedos na zona de Agrelo, em Luján de Cuyo (Mendoza), há uma casa pequena, moderna e bonita. Apesar de nenhum desses vinhedos ao redor fazer parte da propriedade, ela é a sede de uma das vinícolas mais especiais da Argentina: a Bressia, bodega familiar que compra as uvas de produtores selecionados e cuja produção anual não passa de 120 mil garrafas.
Conhecemos um dos seus principais vinhos, o Bressia Profundo, há poucos anos, por acaso. Ele nos foi indicado para comprar, durante uma viagem de turismo a Buenos Aires, pelo especialista Joaquín Alberdi, proprietário da loja Lo de Joaquín, no bairro de Palermo (falamos sse lugar incrível aqui no blog). A partir de então, a vinícola entrou para a nossa lista de desejos.

Casa ao mesmo tempo rústica e moderna que é a sede da vinícola na zona de Agrelo, em Luján de Cuyo, Mendoza
A visita começou com uma rápida explicação sobre a história da jovem vinícola, fundada em 2003 por Walter Bressia, a mulher e os filhos. Anteriormente, ele já possuía uma longa trajetória como enólogo na Argentina e no exterior. Criou a bodega com o intuito de fazer algo pequeno no melhor dos sentidos, para elaborar os chamados vinhos de autor. A Bressia exporta 60% de sua produção, inclusive para o Brasil.
Andando pelas dependências da casa, fomos ouvindo as explicações do guia a respeito de todo o processo de produção. Ele foi além da simples teoria. Ao longo do tour, experimentamos três “vinhos” (que ainda não estão prontos) da safra deste ano, diretamente dos tanques de fermentação: um sauvignon blanc, um espumante feito da combinação dessa uva com chardonnay, e um malbec da linha Monteagrelo que só estará pronto daqui a dois anos.
Na sua busca por qualidade, a Bressia “se dá ao luxo” de, por exemplo, utilizar barricas (60% de carvalho francês e 40% de americano) apenas duas vezes para a maturação dos seus vinhos. Depois, elas são vendidas. Isso garante maior presença, “profundidade” e intensidade dos diversos aromas e sabores que vão sendo agregados aos vinhos ao longo da maturação e antes de serem engarrafados. Para efeito de comparação, é muito comum que as vinícolas dêem até cinco, seis usos para suas barricas, deixando somente para as linhas premium as mais novas (de 1º e 2º uso).
‘Xodó’ e degustação – O já citado Profundo é o xodó da família. Além de ter sido o primeiro produto elaborado pela vinícola, ele fez história ao ser o primeiro vinho blend (ou assemblage) da Argentina, inaugurando esse estilo em um país que se notabilizou no mercado mundial por seus varietais.
Um varietal é feito só com um mesmo tipo de uva. Já um blend é elaborado a partir de diversas variedades combinadas em proporções distintas. No caso desse, uma combinação de malbec (50%), cabernet sauvignon (30%), merlot (10%) e syrah (10%). São dez meses de barrica e mais um ano na garrafa antes de ir para o mercado e encantar quem gosta de um tinto bem estruturado, mas ainda assim fresco e frutado.
Provamos seis vinhos. Isso foi possível porque cada um de nós escolheu uma degustação diferente, de três vinhos cada. Optamos pelas que eram mais em conta e, assim, elas não incluíam os dois vinhos top da bodega, Ultima Hoja e Conjuro, dos quais já ouvimos falar maravilhas.

Degustação contou com seis vinhos de diferentes linhas da vinícola, sendo um rosé, um branco e quatro tintos
Mas valeu muito a pena. Degustamos dois da linha Sylvestra (a mais básica da vinícola), sendo um rosé de pinot noir e um malbec puro e sem passar por madeira, ambos da safra 2015 e ambos corretos. Dois da Monteagrelo (a linha seguinte), um cabernet franc e outro malbec, nesse caso os dois da safra 2013: ótimos vinhos.
Ainda teve o Lagrima Canela 2014, um branco “de guarda”, mescla das uvas chardonnay (70%) com semillon (30%) que amadurece 14 meses em barricas francesas e, portanto, é bastante encorpado para um branco. A cor dourada é linda, mas em geral não somos muito afeitos aos aromas e sabores dos brancos mais robustos.
E, para coroar a visita à primeira vinícola e pavimentar os nossos próximos passos naquele paraíso, digo, em Mendoza, fechamos com alguns goles do “nosso” Bressia Profundo, safra 2011. Equilibrado, frutado, aromático, gostoso. Uma delícia difícil de descrever.
1 Comentário
Olá Letícia e Eduardo. Adorei os artigos sobre Mendoza. Irei no final de setembro e ficarei 7 dias. Vc poderia me enfiar esse roteiro que fizeram para eu saber quais e quantas vinicolas visitar por dia? Muito obrigado e parabéns, estou adorando o blog. Meu email [email protected]