Nunca tínhamos ouvido falar na Belasco de Baquedano. Quando chegamos à bodega, no fim de uma tarde ensolarada em Luján de Cuyo, já não era possível fazer degustações dirigidas. Ainda assim, como cortesia, provamos dois de seus ótimos vinhos antes de irmos embora. Mas o que nos encantou mesmo foi uma experiência rica e inesquecível que tivemos ao fim da rápida visita: um mergulho na sua grande e inusitada Sala de Aromas.

Entrada da Belasco: moderna vinícola pertence a um grupo espanhol que está há oito gerações no negócio do vinho
Naquele salão, o único nesses moldes na América Latina, há 46 aromas identificados, estruturados e ordenados. Eles estão alojados em recipientes cilíndricos de acrílico e têm cheiros de frutas, flores, vegetais, minerais, enfim, de uma infinidade de elementos. A gente vai rodeando a sala e parando em cada um dos recipientes, tentando descobrir o que tem ali.
Existem quatro tipos de aromas. Os primários, ou aromas varietais, são os específicos para cada variedade de uva. Os secundários são aqueles que se formam durante o processo de elaboração, produzidos por leveduras no processo de fermentação do vinho. Os terciários aparecem principalmente durante o envelhecimento em garrafa. E os demais são os defeituosos, ou seja, aqueles que permitem reconhecer um vinho com defeito – como o de vinagre, que aparece quando há oxidação, por exemplo.
O visitante pode exercer os seus sentidos e puxar na memória pelos cheiros ali armazenados, e mesmo conhecer outros que nunca sentiu de verdade. O exercício potencializa as nuances e sensações que se tem ao beber vinho, essa bebida mágica que traz consigo os mais diferentes sabores e texturas. É uma experiência marcante e muito divertida.
História – A Belasco de Baquedano é parte do grupo espanhol La Navarra, que começou suas atividades comerciais na Europa no fim do século XVI. A história deles na América do Sul, no entanto, é bem mais recente.
O projeto da vinícola nasceu em 1996, quando o proprietário Juan Ignacio Belasco, da oitava geração de vinicultores da família, iniciou uma busca por terras no Chile e na Argentina. Em 2003, ele comprou o atual terreno da bodega: são 70 hectares, na zona de Agrelo, Luján de Cuyo, numa antiga área de vinhedos de malbec. Nesse e em outros vinhedos próprios, a vinícola produz anualmente cerca de 800 mil garrafas.

Parte dos 70 hectares de vinhedos e a paisagem estonteante que se vê do terraço da vinícola, com a Cordilheira no horizonte
Vinhos – Gostamos bastante dos dois vinhos que provamos. O branco foi o Rosa de Argentina Torrontés, feito 100% com essa uva única da Argentina. Todo vinho elaborado unicamente com torrontés é apelidado de “El Mentiroso” (O Mentiroso). Isso porque essa uva dá vinhos que, no aroma, quando você os cheira antes de beber, são suaves, frutados, doces; já no paladar, são perfeitamente secos, frescos e ácidos na medida, como deve ser o vinho branco. Muito bom.
Depois, foi a vez do Swinto Malbec, um dos principais da vinícola. É um ótimo tinto, elaborado a partir de uvas de vinhas velhas, de quase 100 anos de idade. Passa 18 meses em barris de carvalho francês e tem uma cor muito bonita, um roxo brilhante, além de ser muito aromático e saboroso, com toda a potência dos melhores malbec. Aprovadíssimo.
Dado o último gole, deixamos aquele lugar rodeado de vinhedos ainda banhados pelo sol. E levamos impressa na mente uma inesquecível experiência sensorial que mudou a nossa forma de apreciar os vinhos dali por diante.
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