Quando decidimos visitar a região de Mendoza, a nossa maior expectativa era a ida até a Viña Cobos. Para nós, que ainda não conhecíamos detalhes das linhas de produtos da vinícola, o importante era o fato de que lá era fabricado o vinho que, tempos atrás, tornou-se uma referência para todas as nossas degustações: o Bramare Cabernet Sauvignon (safra 2010), na época ainda com o rótulo cinza (que já não existe mais).

Vista de parte dos vinhedos da Cobos, em Luján de Cuyo: a produção anual da vinícola é de 1 milhão de litros
A minha história e a do Edu com esse vinho começou quando um dia, há pouco menos de três anos, meu pai voltou de um almoço na casa do meu tio e telefonou para contar:
– Bebi o melhor vinho da minha vida na casa do João. É um argentino, Bramare. Não sei nem explicar… É maravilhoso!
A partir desse dia, a insistência por um almoço na casa do meu tio começou, para podermos provar o tal “melhor vinho do mundo”. Eis que um dia veio o tão esperado “convite” para o almoço. Não estávamos nem aí para o que iríamos comer. No caminho, torcíamos para que o João não abrisse outro vinho. Queríamos o Bramare.
Chegando lá, meu tio, já sabendo da nossa aflição, abriu logo uma garrafa. Provamos. Fora gritar um palavrão, não havia como descrever o que era aquilo, ainda mais que éramos ainda iniciantes no assunto “vinho”. Queríamos mais e mais. Nem lembro qual foi o menu do almoço, certamente alguma carne, provavelmente uma costelinha.
Desde esse episódio, o Bramare virou uma referência para a família. Até hoje, quando degustamos um vinho, o que fazemos sem quaisquer frescuras (como manda o nosso lema), fazemos a comparação: “é quase um Bramare” ou “é um Bramare mais ralo” ou ainda “é um Bramare mais forte”, e por aí vai. Ele virou uma espécie de base para os vinhos que bebemos, principalmente os de países do Novo Mundo.
Assim, na primeira das duas vezes em que fomos à Viña Cobos, mal paramos o carro e, suspirando, olhamos para as uvas dizendo: “Olha as uvinhas do Bramare”! Coisa de fã. Estávamos ansiosos para conhecer mais sobre o lugar que fazia um dos nossos vinhos preferidos.
A vinícola fica na região de Perdriel, em Luján de Cuyo. Sua sede é bem moderna e bonita. A sala de degustação, além de vista para parte dos vinhedos, tem uma decoração elegante e um espaço claro e arejado.
Encontro – A bodega nasceu do encontro dos mendocinos Andrea Marchiori e Luis Barraud com o enólogo Paul Hobbs. O americano esteve pela primeira vez em Mendoza em 1989 e reconheceu suas terras como um terroir encantador para a produção de malbec e outras variedades. Os três se conheceram após uma viagem dos argentinos à Califórnia, em 1997, quando foram aperfeiçoar seus conhecimentos em vitivinicultura e enologia.

Uma parte da elegante sala de degustações é também o local de recepção dos visitantes: vista para os parreirais
Foi aí que, com o objetivo de fazer um tinto à altura dos mais renomados do mundo, eles se uniram para criar a Viña Cobos. O ponto de partida foi o vinhedo Marchiori, um pedaço de terra especial, com vinhas antigas, de até 80 anos. O solo possui camadas profundas e boa drenagem, com texturas que variam desde o argiloso, onde as pedras aparecem na superfície, até o arenoso. Lá são plantadas uvas malbec, merlot, cabernet-sauvignon e chardonnay, cada uma recebendo um tratamento diferente, de acordo com o pedaço de solo onde estão.
O vinhedo é de propriedade de Nico Marchiori, pai de Andrea, um italiano visionário e perseverante com sua plantação. Ele sempre apostou que, um dia, a qualidade seria prioridade na vitivinicultura argentina. Esse dia chegou e as uvas de sua terra são usadas para a produção dos mais importantes vinhos da bodega.
Produção – A vinícola tem cinco linhas de produtos: Cobos, o mais renomado, Bramare Vineyard Designate, Bramare Appellation, Cocodrilo e Felino, o mais simples e que a partir da safra 2015 vem com novo rótulo, no lugar do marrom que sempre o caracterizou.
Em todas elas, é possível identificar um equilíbrio fantástico, resultado de um cuidado minucioso com as videiras, de um trabalho artesanal e de um respeito pelas características de cada terroir. No total, são 200 hectares de plantações, divididas entre as regiões de Luján de Cuyo e Valle de Uco.
São produzidos por ano 1 milhão de litros de vinhos, o que representa cerca de 1 milhão e 300 mil garrafas. Dessas, apenas 5 mil são de Cobos, o vinho ícone da vinícola. Somente na nossa última visita pudemos degustar uma taça dessa jóia, e por acaso. Uma garrafa havia sido aberta mais cedo para uma degustação de investidores e a guia explicou que, uma vez aberta, eles servem o que sobra, mesmo não fazendo parte da degustação mais simples e mais barata, a qual havíamos escolhido.
É óbvio que achamos o vinho mais do que maravilhoso. Na nossa “escala de comparação”, é, digamos, um “Bramare ainda mais especial e indescritível”. Porém, apesar de termos conhecido esse sabor, a nossa história com a vinícola, que nasceu por causa do Bramare, ainda faz com que ele continue sendo o vinho do nosso coração.
No próximo texto, contamos mais sobre as degustações que fizemos na Viña Cobos. E também sobre a história do enólogo-celebridade Paul Hobbs, conhecido pela sua habilidade em lidar com vinhedos de diferentes regiões, de forma tradicional e inovadora ao mesmo tempo.
4 Comentários
Na última viagem a Argentina com um amigo fizemos um trato de, cada um, comprar um vinho famoso, caro e tomarmos juntos. Comprei um Cobos que foi muito mas muito caro pros meus padroes mas eu fiquei apaixonado.
O Cobos é demais de bom…
Abs!
Cheguei ontem de BA, claro que trouxe alguns Bramares é um Cobos, ansioso para beber!!!
E aí? Maravilhosos como sempre?!
Um abraço e obrigado pela leitura!