A Bodega Norton nasceu do romance entre um engenheiro civil alemão e uma mendocina. Na Argentina para a construção do trem que ligaria Mendoza ao Chile, Edmund James Palmer Norton se apaixonou e resolveu formar a sua família na região. Seu sogro, muito generoso, doou 50 hectares de terra para que o casal começasse a vida. Com videiras trazidas da França, Norton iniciou a plantação das uvas. Pouco depois, comprou mais 50 hectares de terra ali mesmo, em Perdriel, Luján de Cuyo, e iniciou a construção da vinícola.

A entrada da vinícola, que completou 120 anos em 2015, é pela loja de produtos, local onde a visitação começa e termina
Não sabemos se a paixão do engenheiro por sua mulher, com quem teve 10 filhos, foi à primeira vista. A nossa paixão pela vinícola não foi. Só começou depois de já estarmos lá. Isso porque, daqui do Brasil, quando marcamos a visita, achávamos que a bodega seria muito grande e sem charme. Puro engano. Chegando lá, fomos fisgados pelo ótimo atendimento, pelo passeio recheado de histórias e pelo restaurante, um capítulo à parte (que contaremos no próximo post), que nos faz suspirar a cada lembrança.

Extensa área de vinhedos vista da varanda da propriedade: bodega tem um total de 700 hectares de plantações
Hoje em dia, a empresa não é mais comandada pela família Norton. Foi comprada em 1989 pelo empresário austríaco Gernot Langes-Swarovski, o mesmo dos famosos cristais.
A partir dos anos 2000, um dos principais objetivos da empresa foi aumentar a abrangência internacional. Seus vinhos estão atualmente em mais de 60 países pelo mundo, incluindo o Brasil, onde vários deles podem ser encontrados em supermercados e restaurantes.
A produção anual não é divulgada, pois eles trabalham de acordo com a demanda do mercado. Como a economia da Argentina não tem muita estabilidade, esse número pode variar bastante. Porém, a bodega tem cerca de 700 hectares de vinhedos, mais de 80 tanques de fermentação e 2 mil e 500 barricas de carvalho. Com isso tudo, dá para fazer vinho à beça…
Visita e degustação – O passeio pela vinícola dura cerca de uma hora e meia. Está sempre cheio, com muitos brasileiros. Logo no início os turistas são levados a um bar de vinhos onde também está um mirante de onde se vê boa parte das plantações. Nesse momento, a guia explica a história da Norton e fala sobre a forma de trabalho.
Aprendemos, por exemplo, que, devido ao clima extremamente seco, a irrigação das plantas é feita por um método chamado gotejamento. A água vem do degelo da Cordilheira dos Andes e a quantidade usada é exatamente a necessária. Não há desperdício. Por conta do clima frio durante o inverno, os vinhedos recebem a proteção de uma rede contra as geadas, comuns nessa época.
Na etapa seguinte do tour, fomos conhecer os enormes tanques de fermentação e a sala dos barris. Nesse local, tivemos a oportunidade de ver e de experimentar um pouquinho de vinho retirado diretamente da barrica. Para nós, ver essa operação, que é feita com uma espécie de “seringa”, foi uma grande novidade.
Em seguida, passamos ao local mais bonito da bodega, a Cave Histórica. Nela estão armazenadas mais de 500 mil garrafas, sendo a mais antiga a de um vinho de 1944 feito com a uva tannat.
A degustação foi realizada durante esse passeio pela cave. Em cada “cômodo”, um vinho diferente foi experimentado. Foram quatro no total, todos tintos. Três deles feitos exclusivamente de malbec.
O primeiro vinho foi o La Colonia Malbec 2015. A guia retirou, da pilha de milhares de garrafas, uma ainda sem rótulo (depois nos mostrou a da foto, já pronta para venda). Trata-se de um vinho ainda jovem, mas bastante bom, principalmente para a “abertura dos trabalhos”.
Depois, veio o Norton D.O.C. Malbec 2013, um clássico da vinícola que pode ser encontrado em qualquer grande supermercado no Brasil. Tem ótimo custo-benefício, boa fruta no aroma e no sabor. Enfim, um malbec que tem o seu valor no dia a dia.
Em seguida, provamos o Norton Reserva Malbec 2012. Um tinto muito gostoso, encorpado e aromático.
Para fechar a ótima degustação, um vinho que não conhecíamos: Quorum III. Ele é um assemblage (combinação de uvas diferentes) de petit verdot (60%), tannat (20%) e malbec (20%). Um detalhe interessante é que as uvas são provenientes de safras (anos das colheitas) distintas: respectivamente de 2011, 2010 e 2007.
A mistura, pouco usual em relação ao que estamos habituados em termos de vinhos argentinos, funciona muito bem. Um grande tinto que encerrou uma bela visita e nos preparou para o passo seguinte: simplesmente um almoço harmonizado em seis etapas… Foi muita alegria para um dia só!
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