O nosso caso de amor com a Viña Cobos é antigo, como contamos no post anterior. Mas, agora sabemos, ele está só começando. A segunda visita à vinícola fez com que pudéssemos conhecer de forma mais abrangente a sua linha de produtos e perceber, muito claramente – ainda que não sejamos experts no assunto –, que os vinhos da bodega têm de fato uma unidade, um estilo muito particular (e do qual, definitivamente, gostamos muito).
Certamente isso é o resultado de uma série de fatores, como os diferentes terroirs dos vinhedos, que já leva em conta o clima específico de cada pedacinho de terra, as uvas escolhidas, os diferentes microclimas etc. Mas, muito especificamente nesse caso, existe a mão do enólogo. No mundo do vinho, há quem torça o nariz para essa “interferência”. Bobagem. Quando bem feita – e esse conceito depende do gosto de cada pessoa, da ocasião e da forma como aprecia a bebida (não existe certo ou errado em relação a vinhos) –, o resultado é fantástico.

Paisagem que encanta: a vista que se tem de parte dos vinhedos da Viña Cobos na região de Perdriel, Juján de Cuyo, Mendoza
‘Mago’ – Na Viña Cobos, o “mago” que moldou esse estilo foi o enólogo-celebridade Paul Hobbs, já descrito pela revista Forbes como “o Steve Jobs do vinho”. Ele é reconhecido por sua habilidade para identificar vinhedos com características excepcionais e desenvolver seu trabalho em diferentes condições.
Desde 1991, produz vinhos na Califórnia. O seu Paul Hobbs 2002, de Cabernet Sauvignon, elaborado com uvas de um vinhedo chamado Beckstoffer to Kalon, alcançou a pontuação máxima (100 pontos) na avaliação do famoso crítico de vinhos Robert Parker, uma referência mundial no assunto – mas que também divide opiniões.
Para nós, porém, de certa forma nada disso importa. Só ficamos sabendo dessa fama toda depois de termos tido a oportunidade de experimentar diferentes vinhos da bodega. Muito antes, como já escrevemos por aqui, o Bramare Cabernet Sauvignon já havia flechado os nossos corações quando, ao bebê-lo, sentimos de cara aromas e paladares que nos agradaram em cheio. Para nós, é o que vale sempre, mais do que qualquer teoria enochata.

De dentro da sala de degustações, um Bramare Malbec 2013 emoldura parte da plantação da uvas da vinícola
Degustações – Antes mesmo de escolher a degustação, a sommelier nos apresentou duas surpresas. São dois brancos novos da vinícola: o Felino Chardonnay 2015, bem fresco e cítrico na medida, e o Bramare Chardonnay 2015, este de uvas do vinhedo Los Arbolitos, localizado no Valle de Uco, bem ao sul de Mendoza e com altitudes que se aproximam de mil metros. Este segundo achamos mais encorpado e também bastante fresco e aromático. Gostamos muito dos vinhos.
A Viña Cobos só produz vinhos brancos com a cepa chardonnay. Segundo a guia da nossa degustação, é a uva com que eles sabem trabalhar melhor. A ideia é não competir com os vinhos chilenos feitos de sauvignon blanc, reconhecidamente uma das grandes qualidades do país vizinho.
Depois, passamos à degustação escolhida por nós. Nessa fase, experimentamos cinco tintos no total. O primeiro era feito de uma “mistura” de uvas, um assemblage, o Cocodrilo 2014. A base dele é sempre a cabernet sauvignon, e as demais variedades que entram para formar o corte (combinação de uvas) do vinho variam de safra a safra, sempre de acordo com a avaliação dos enólogos.
Em seguida, dois vinhos Bramare Cabernet Sauvignon 2013, ambos de Luján de Cuyo. A diferença entre eles é que as uvas eram provenientes de plantações com características de microclima e solo distintas. Um deles era do vinhedo Marchiori, que deu origem à vinícola. Considerando que o Bramare é o nosso queridinho e que escolher entre dois tipos diferentes dele é algo bem difícil, gostamos ainda mais do Marchiori. Pareceu-nos mais equilibrado, elegante, gostoso mesmo!
Fizemos também uma prova comparativa de dois Bramare Malbec 2013 (foto que abre o texto), feitos de uvas plantadas em vinhedos diferentes. Um deles, elaborado com uvas da região do Valle de Uco. Outro, originário das plantações da mesma malbec, sendo que em Luján de Cuyo. Foi interessante notar como uma mesma uva pode ter aromas e gostos completamente diversos. Novamente na difícil missão de avaliar dois Bramares, escolhemos o primeiro, visto por nós como mais harmônico e “redondo” na hora de beber.
Surpresa – Quando achamos que aquela degustação, infelizmente, havia chegado ao fim, a sommelier apareceu com a grande surpresa: um Cobos Malbec 2013. Mais cedo, uma garrafa desse vinho top da vinícola – cuja garrafa custa, por baixo, cerca de R$ 800 – havia sido aberta para apresentar a possíveis investidores em visita à bodega. Ela explicou que ele não entra na degustação, mas quando há um aberto, eles servem a “sobra”.
Serviu-nos duas taças. Nós, que já éramos completamente apaixonados pelo Bramare, ficamos fascinados pelo Cobos. Um vinho maravilhoso. Não tem como explicar, só bebendo para entender.
Cada gole foi valorizado e o que havia naquelas tacinhas foi rendido ao máximo. Depois de tirarmos fotos agarrados à taça, degustamos a última gota valiosa e fomos embora, sorrindo e com a certeza de que esse mundo do vinho é mesmo capaz de despertar muitas paixões.
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