De pouco mais de um ano para cá, não é raro estarmos em casa no começo da tarde de um sábado, por exemplo, e um de nós dizer para o outro algo como: “Tudo o que eu queria agora era ir almoçar na Norton”. Assim nos referimos ao menu harmonizado do maravilhoso restaurante La Vid, da Bodega Norton, em Mendoza. Nas duas vezes em que lá estivemos, emendamos a visita à vinícola com uma indescritível refeição em seis etapas.

Um dos recantos do restaurante, que só trabalha com reservas: decoração de bom gosto e comida de alto nível

Taças para os vinhos do menu harmonizado

O restaurante é relativamente pequeno, muito bonito e só trabalha com reservas. Há opções à la carte, entre elas vários pratos com a deliciosa carne argentina. Nesse caso, você tem à disposição uma carta de vinhos, para todos os gostos e bolsos, com os rótulos fabricados pela bodega.

Nós escolhemos o menu harmonizado. E não só não nos arrependemos como faríamos tudo de novo.

Basta informar essa opção ao garçom para que ele decore a mesa com taças e mais taças de tipos e tamanhos diferentes. Fica aquela fila de recipientes transparentes esperando, como nós, pelos vinhos que estão por vir.

Aperitivo do chef

É quase impossível explicar ou traduzir a sensação de prazer que se tem quando comida e bebida se combinam de forma tão gostosa e tão intensa – como sempre ocorre no La Vid. Então, vamos ao menos tentar descrever, em texto e fotos, o passo a passo desse almoço, o nosso segundo lá (os pratos variam conforme a estação do ano).

Primeira entrada

O almoço – Mal chegam pães, manteiga e azeite e o menu ganha mais uma etapa – a sétima! De repente, o garçom traz um amouse bûche, um aperitivo feito como cortesia pelo chef, antes da entrada propriamente dita: torrada com pasta de atum e mini empanada de bacon, acompanhadas de um espumante Brut Rosé. Muito bom.

Segunda entrada

Em seguida, vem a entrada. É um carpaccio de peixe com lâminas de melancia e gengibre. Para acompanhar, espumante Colheita Especial Vintage Brut Nature.

A combinação é toda bem leve, de muito frescor. E cumpre gostosamente o papel de abrir o apetite.

Passamos então à próxima etapa, ainda na categoria “entrada”: gema de ovo no azeite sobre creme de tomate confitado e pão caseiro assado no forno de barro. A harmonização foi com o Norton Reserva Malbec, o mesmo que tínhamos degustado durante a visita. Bastante bom.

Cabrito assado

Depois, foi a vez do primeiro prato principal. Chegou à mesa uma carne de cabrito assada, com patê de tomate e amêndoas torradas e creme de milho. O vinho: Norton Lote Malbec, já mais encorpado que o anterior para fazer frente ao cabrito. Ótimo.

Prato principal: ‘ojo de bife’

Seguimos para o prato principal de fato. Como não podia deixar de ser, uma carne como os argentinos sabem fazer muito bem: um ojo de bife (miolo do Bife Ancho, a parte dianteira do contrafilé) grelhado. Acompanhando, lâminas de tomate, alho e um creme parecido (na consistência e no sabor) com molho pesto.

O vinho que harmonizou com essa delícia foi o ótimo Norton Quorum III (que também degustamos antes, na visita à bodega). É uma combinação das uvas petit verdot, tannat e malbec. Um casamento divino nessa etapa do almoço.

Sobremesa à base de doce de leite

Quando a gente pensa que não vai aguentar mais – e que não pode ficar melhor do que está –, chega a sobremesa: simplesmente um sorvete de doce de leite com caramelo, junto com um pudim também de doce de leite. Acompanhando, o Colheita Tardia 100% Chardonnay, um espumante doce próprio para sobremesa que lavou a alma da gente.

Chocolate, grapa e café

Mas calma que ainda não acabou. Para fechar essa delicada orgia gastronômica regada a vinho, é hora da cereja do bolo dos almoços na Norton: chocolate amargo (86%), petit four (aqueles bolinhos), café e… Grapa Norton Malbec.

A grapa é, por assim dizer, a aguardente do vinho, uma espécie de “cachaça feita de uva”. Como a bebida é muito alcoólica, o garçom explica o “modo de usar”, em três passos: come-se um pedaço do chocolate; bebe-se a grapa por cima, com o fim do chocolate ainda na boca, pois ele tira a agressividade alcoólica da bebida, que ganha um novo sabor; e, por fim, um gole de café.

Repete-se o ritual até que tudo se acabe e que a gente vá embora e passe a vida querendo voltar àquele lugar e àqueles sabores dos quais nunca mais esquecemos.