No mesmo dia em que amanhecemos na Bodega Bressia e entardecemos na Viña Cobos, entre uma e outra, almoçamos na Melipal. As três vinícolas ficam muito próximas entre si, não mais do que dois quilômetros de distância uma da outra, o que facilita a logística para otimizar o tempo e visitá-las em sequência. Talvez nesse dia tenha faltado sorte à Melipal diante das duas vizinhas de peso, fortes concorrentes em diversos sentidos. Gostamos da bodega. Mas esperávamos mais dela.

Construção moderna e arrojada, sede da vinícola Melipal parece estar suspensa na paisagem (foto: divulgação)
É bem verdade que não fizemos a visita guiada e que, por causa do mau tempo, não foi possível contemplar, da varanda de madeira, a Cordilheira dos Andes – o que, por si só, teria feito muita diferença. Mesmo assim, a vinícola, localizada na zona de Agrelo, em Luján de Cuyo, é bem bonita, com a sua moderna sede que parece flutuar em meio à paisagem que reúne lago, pequenos canais e, claro, vinhedos.
Os visitantes têm opções que vão de aulas de culinária a passeios guiados pela bodega e pelas vinhas, inclusive as mais velhas, de onde saem as uvas para os vinhos premium. Não tínhamos tempo e optamos apenas pelo almoço de cinco etapas, cada uma harmonizada com um vinho da vinícola.
A comida estava muito boa. Já os vinhos – que a Melipal, em seus canais de divulgação, diz serem “de grande concentração aromática, notável estrutura e um elegante final” – não nos pareceram tão bons assim.
Almoço harmonizado – A entrada foi uma terrine de queijo azul sobre um creme cítrico com salada de quinoa e pomelos (ou toranjas, aquelas frutas que parecem uma mistura de laranja com tangerina). Para acompanhar, Melipal Malbec Rosé 2015, o que eles chamam de “colheita temprana”, ou seja, quando as uvas são colhidas antes do tempo em relação ao calendário normal da colheita anual.
O resultado é um vinho muito leve, apesar do tom rosado mais para vermelho, e que estava pouco aromático. Não empolgou.
A seguir, veio uma segunda entrada interessante: tempuras de tomate seco acompanhadas de queijo de cabra, brotos, mosto de uva e molho chili (levemente apimentado). A harmonização foi feita com o Ikella Cabernet Sauvignon 2014, vinho fresco e frutado – e apenas correto.
Depois, passaríamos ao terreno dos malbecs e as nossas expectativas eram as melhores. Veio então, primeiro, uma carne de porco desfiada acompanhada de uma massa crocante (tipo um pastelzinho), cogumelos e pedaços de maçã verde sobre um purê de batata doce e peras na redução de malbec.
Apesar do nome grande, o prato era sutil e muito bom, com as frutas fazendo um belo contraste. O tinto foi o Melipal Malbec 2014, feito 100% com a uva-ícone da Argentina. Dito assim, parece que foi tudo ótimo.
Acontece que o vinho não tinha muita potência e estava mais para alcoólico do que para o lado da fruta que os malbecs costumam ter no aroma e no paladar. E olha que se trata de um vinho com passagem por barricas de carvalho francês durante 12 meses…
Em seguida, fomos ao prato principal: filé mignon acompanhado de creme de berinjelas defumadas e batatas rústicas “amassadas”, vagem e cebolas ao limão. O vinho da maridaje (casamento, que é como eles chamam a harmonização) foi um Melipal Nazarenas Vineyard Malbec, safra 2013. A safra anterior desse vinho (2012) obteve 94 pontos na publicação especializada Wine Enthusiast.
Trata-se de um dos principais tintos da vinícola, elaborado com uvas da Finca Nazarenas, vinhedo que data de 1923, e envelhecido por 18 meses em barricas francesas. Agora, sim. Nesse ponto foi que sentimos, no paladar, um vinho muito bom, encorpado na medida para um malbec de safra ainda recente. Ainda assim, ele não fez frente a vários outros malbecs, inclusive da mesma safra, que provamos em outras vinícolas durante a viagem.
Para fechar, a sobremesa foi mousse de doce de leite sobre brownie de chocolate branco com amêndoas, tudo acompanhado por sorvete de café. Maravilhosa.
O vinho: Melipal Malbec Late Harvest 2011. Ou seja, um “colheita tardia”, um vinho de sobremesa sem adição de açúcares, naturalmente doce (nada a ver, portanto, com os fortificados do tipo Porto ou Jerez).
Não saímos arrependidos, longe disso. Mas quem sabe de uma próxima vez, degustando separadamente os vinhos (talvez de safras um pouco mais antigas) e com direito à visão estonteante da cordilheira sob o céu azul que estava de folga naquele dia, a Melipal se saia melhor na nossa avaliação.
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