Bem antes de pensarmos em criar este Botequim, estivemos a passeio em Buenos Aires e descobrimos, absolutamente por acaso, a vinoteca Lo de Joaquín Alberdi. Ao entrarmos naquela loja de fachada amarela, no coração de Palermo Soho – um pedaço de Palermo que faz referência a bairros de Nova Iorque e Londres identificados com moda, arte e gastronomia –, não podíamos imaginar que ali começaria um novo capítulo de aprendizado e admiração pelos vinhos argentinos.

Na loja, há mais de 500 rótulos de vinícolas grandes e pequenas, de diferentes preços, estilos e regiões do país

Logo de cara, um simpático vendedor nos perguntou sobre os estilos de vinhos de que gostávamos e quanto estávamos dispostos a pagar por eles. Assim, ele faria uma média de preços com garrafas de tipos, procedência e preços diferentes para que diversificássemos a nossa experiência com os vinhos do país, indo além daqueles da famosa região de Mendoza (que ainda não conhecíamos).

Mais tarde (e até hoje), a desconfiança inicial – “Será que esse argentino não está nos fazendo gastar dinheiro com um monte de vinhos ruins?” – deu lugar à certeza de termos ampliado muito o nosso horizonte. Saímos de lá com mais de uma dezena de tintos e brancos de todos os cantos, inclusive de lugares onde nem sabíamos que a bebida era produzida.

Joaquín Alberdi, no caixa da sua loja: grande conhecedor de vinhos de várias regiões da Argentina

Além de Luján de Cuyo, Maipu e Valle de Uco, em Mendoza, levamos vinhos de regiões como a Patagônia Argentina e Salta, província que fica no Norte do país. De volta ao Brasil, com o tempo e o esvaziamento das garrafas, fomos percebendo que aquele vendedor risonho e bonachão, Joaquín Alberdi, não só nos tinha dado uma aula sobre o assunto como havia sido mais do que honesto nas suas indicações, mudando a nossa maneira de ver os vinhos da Argentina.

Degustações – Na loja, instalada há 11 anos na Rua Jorge Luis Borges, existem mais de 500 rótulos de vinícolas grandes e pequenas, de variados preços, estilos e regiões do país. Nas noites de quintas e sextas-feiras, há degustações dirigidas: a cada semana, uma bodega argentina é convidada para que os próprios proprietários falem sobre seus produtos.

Prova no balcão enquanto Joaquín mostra no mapa regiões produtoras que vão muito além da conhecida Mendoza

A quem entra em sua loja, Joaquín – que tem uma filial na cidade de Coronel Suarez (ao sul da Província de Buenos Aires), onde passou a infância – conta histórias, dá explicações sobre as bodegas e fala sobre os produtores e as regiões vinícolas do país. Ele jamais “empurra” um produto para se dar bem – e isso sim não tem preço. Sempre se sai da loja dele com o amor pelo vinho renovado. É por isso que, espontaneamente, fazemos questão de recomendar a loja a quem vai a Buenos Aires.

Vinho e cozinha – O vinho entrou na vida dele ainda na infância, quando via os pais escolherem a bebida que acompanharia as refeições em casa. Depois, tornou-se chef de cozinha de restaurantes em cidades como Mar del Plata e Bariloche, na Argentina, e também na Espanha. A partir daí, o mundo do vinho entrou na sua vida para nunca mais sair.

Tintos e brancos enfileirados no balcão

– Fui percebendo que o vinho é um mundo apaixonante, cheio de amigos, é uma bebida para dividir momentos, conversar, fazer churrascos… Comprar um vinho é como comprar uma viagem de férias: a gente quer viver bons momentos, ter alegria e desfrutar a vida. É essa ajuda que tento dar aos que vêm à minha loja – costuma dizer.

Da última vez em que estivemos lá, passamos quase uma hora conversando, provando vinhos e falando da nossa admiração por ele e pela sua loja. No fim, garrafas embaladas, ele nos abraçou e nos deu um cartão:

– Depois escrevam para mim dizendo de quais gostaram mais, se teve algum que não agradou ou se foi tudo uma merda! – disse, rindo muito.

Caro Joaquín: será que esse texto pode ficar no lugar do e-mail que nunca enviamos?